Negro liberto, o mestre-de-campo Henrique Dias participou com bravura dos 24 anos de guerra contra a invasão holandesa no século 17, sendo ferido oito vezes em combate. É venerado pelos militares brasileiros como um dos fundadores da Forças Armadas, por sua atuação nas duas batalhas de Guararapes. Não se sabe quando ele nasceu, provavelmente em Recife. A guerra no Nordeste brasileiro teve três fases distintas: a conquista (1630/37), a administração (1637/42) e a insurreição (1642/54). Na época, a Holanda se expandia como potência marítima e tinha estabelecido também uma colônia na atual Nova York. Em 14 de fevereiro de 1630, a esquadra holandesa do almirante Henrick Lonk, aportou ao norte de Pernambuco e atacou Recife e Olinda, que foi queimada para reduzir o território a ser controlado. Os reforços portugueses não chegaram porque a frota com 3 mil soldados foi atingida por uma peste. A resistência pernambucana liderada pelo irmão do donatário de Pernambuco, Matias de Albuquerque, foi praticamente anulada em 1632 e iniciou a fuga para a Bahia. Os holandeses capturaram Dias em 1635, quando tomaram o forte Bom Jesus. Ele foi tido como um escravo e não ficou entre os prisioneiros mais bem guardados. Fugiu e se reuniu às tropas pernambucanas, que continuavam a recuar para o sul. Henrique Dias serviu então na Bahia, onde foi capitão-do-mato e combateu quilombos. Em 1638, recebeu o título de fidalgo e o hábito da Ordem Militar de Cristo. Neste período, comandava um regimento de 500 negros e recebia um soldo compatível com o posto de comandante. Da mesma forma, Filipe Camarão comandava a tropa formada por índios. Enquanto isso, a partir de 1637, o príncipe Maurício de Nassau consolidou a vitória holandesa em Pernambuco, governou por oito anos e deu esplendor a Recife. A saída de Nassau precipitou a insurreição. O clima de revolta iniciou quando os holandeses passaram a cobrar as dívidas dos senhores de engenho. Os portugueses enviaram então as tropas que estavam acantonadas Bahia, inclusive a comandada por Henrique Dias. O exército holandês, apesar da superioridade numérica, perdeu a primeira batalha expressiva, no Monte das Tabocas, a 3 de agosto de 1645. Outra batalha importante vencida pelos pernambucanos foi a do engenho Casa Forte, no dia 17. Em 1646, chegaram reforços da Holanda para o ataque à ilha de Itaparica, na Bahia. Os pernambucanos, porém, continuaram avançando e tomaram vilas, como Porto Calvo - onde Dias foi gravemente ferido, teve o braço esquerdo amputado, porém voltou à batalha logo em seguida. Logo, os holandeses acabaram mantendo apenas o forte de Orange e Recife. Em 1647, Portugal enviou Francisco Barreto de Menezes, porém, os reforços foram de pouca valia porque os holandeses praticamente eliminaram a frota portuguesa numa batalha naval. Segismundo von Schkoppe, comandante do Recife, passou a tomar atitudes mais agressivas para romper o cerco em direção à área açucareira. Em abril de 1648, perdeu a primeira batalha dos Guararapes, um monte ao sul da cidade, estratégico para controlar o porto de Recife. Em Fevereiro de 1649, o coronel Van Den Brinck e seus 3,5 mil homens receberam uma artilharia e a ordem para desalojar os pernambucanos dos montes Guararapes. Nesse combate, Dias demonstrou excepcional bravura e o batalhão negro perseguiu os holandeses até os portões da cidade. O comandante português, Menezes, mal pode acreditar na vitória. Em 1654, os pernambucanos retomaram Recife e os holandeses foram expulsos. Dias foi levado por Menezes a Portugal, onde foi recebido pelo rei Dom João 4o. Ele pediu que seu regimento de negros fosse perpetuado e o pagamento de pensão aos ex-combatentes. O rei concordou e mandou construir a cidade de Estância, perto do Recife, para os soldados. Dias ganhou o título de governador dos crioulos, pretos e mulatos do Brasil. No entanto, como controlavam a venda do açúcar na Europa, os holandeses passaram a produzi-lo nas Antilhas. A concorrência cortou a lucratividade dos engenhos pernambucanos, onde os senhores reduziram novamente os negros e índios a uma escravidão brutal. Dias morreu na pobreza, no Recife, em 1662.
fonte: http://biografias.netsaber.com.br/ver_biografia_c_295.html