Passado obscuro

Não sendo considerada uma estudante muito promissora, Sarah, que admirava
alguns dos seus professores, achou que os métodos de ensino da instituição eram
antiquados e muito tradicionalistas. Deixou o Conservatório em 1862, com 18
anos, sendo aceita, devido ao empenho do duc de Morny, na Comédie
Française, como discípula. Nas três diferentes peças em que teve de entrar,
a primeira das quais foi a Iphigénie et Aulide de Racine, em 11 de Agosto
de 1862, tendo necessidades para poder passar a atriz residente, não foi notada pelos
críticos. O seu contrato foi cancelado no ano seguinte, devido a ter agredido uma das principais atrizes, que tinha sido um pouco rude com a sua irmã mais
nova, Régine.
Atriz em propulsão

O seu
primeiro sucesso foi no papel de Anna Damby na peça Kean de
Alexandre Dumas pai, mas a sua interpretação de Cordélia no Rei
Lear, de Shakespeare, já tinha sido notada. Já conhecida como a atriz
favorita dos estudantes parisienses, a sua interpretação, em 1869, do trovador
Zanetto na peça em um ato e em verso de François Coppée Le
Passant, o seu primeiro papel em travesti, teve um imenso sucesso, que a
levou a uma representação privada para Napoleão III.
Durante a guerra franco-prussiana de 1870-1871 organizou um pequeno hospital
militar nas instalações do teatro. Com o fim da guerra, a deposição de Napoleão
III, e a proclamação da República, a atriz, mal vista pelos republicanos,
devido às suas conhecidas relações e defesa de personagens do anterior regime,
conseguiu o principal papel feminino, o da Rainha Maria, na peça de
Victor Hugo Ruy Blas, que tinha acabado de chegar do exílio. A sua
atuação encantou as audiências, devido sobretudo ao lirismo da sua voz.
Foi a
razão da célebre frase de Victor Hugo, que afirmou que a atriz tinha uma «voz
de ouro», caracterização que perdurou apesar dos críticos já descreverem a voz
de Sarah Bernhardt como sendo prateada, devido à sua parecença com o tom
de uma flauta.
Em 1872 deixou o Ódeon e regressou à Comédie-Française,
possivelmente devido à intervenção de Hugo. Participou com sucesso na
Zaire de Voltaire, mas normalmente os seus papéis eram secundários, até
ao momento em que interpretou o papel de Vénus na Phèdre de
Racine, substituindo a atriz principal, temporariamente doente.
As críticas
foram entusiásticas, ainda por cima porque se pensava que Sarah não tinha
capacidade de interpretar papéis apaixonados. Mais tarde interpretou a Dona
Sol no Hernani de Victor Hugo, de uma maneira que terá levado o autor
às lágrimas.
Tendo começado a esculpir e a pintar, exibiu as suas obras de escultura de
1876 a 1881 no Salon de Paris, tendo-lhe sido atribuída uma menção
honrosa no primeiro ano. Em 1880 exibiu também uma pintura.
Em 1879, Londres rendeu-se à interpretação de Sarah Bernhardt no segundo ato
da Phédre, produzido no Gaiety, durante a exibição da
Comédie em Inglaterra.
Um mundo não é o bastante:
Uma carreira internacional estava à sua
disposição, a partir desse momento. Por isso, o regresso às instalações da
companhia trouxeram de novo os já famosos ataques de má disposição. O corte com
a Comédie deu-se rapidamente, e em 1880 Sarah Bernhardt abandonou a
companhia oficial francesa, indo representar em Londres e depois na Dinamarca.
Tendo criado a sua própria companhia, com a ajuda do empresário londrino
Jarrett, partiu para os Estados Unidos, acompanhada de uma secretária, um
mordomo, dois cozinheiros, duas criadas de quarto e um empregado. Durante dois
meses percorrerão cinquenta cidades americanas. Nova Iorque é a primeira cidade
americana a vê-la, em 8 de Novembro de 1880.
Regressará ao Novo Mundo mais oito
vezes. De regresso à Europa atua em todo o lado, tirando a Alemanha. Em Odessa,
na terra dos czares, fora menosprezada por grupos anti-semitas russos. Mas o czar
presta-lhe homenagem pública.
Na década de 80 do século XIX, aparece na sua vida o dramaturgo Victorien Sardou, que
escreveu peças para ela como: Fédora (1882), Théodora (1884), La
Tosca (1887) e Cléopâtre (1890), dirigindo-a nas suas próprias peças
e levando-a a actuar de uma maneira extrovertida, em cenários exóticos e com
guarda-roupas riquíssimas, no Teatro de La Porte Saint-Martin, de que a
atriz se tinha tornado proprietária. Entretanto casará, em 1882 em Londres, com
Jacques Damala, um jovem grego amante da sua irmã mais velha, um ator sem talento
e drogado notário. O casamento não dura devido à morte do marido.
De 1891 a 1893 fez uma digressão mundial que incluiu a Austrália e a América
do Sul, para além da América do Norte e as principais capitais europeias.
Extravagâncias

O seus papéis mais populares, para além da Phèdre, são o de Marguérite Gautier na Dama das Camélias de Alexandre Dumas Filho e no papel principal na Adrienne Lecouvreur de Eugène Scribe. No fim da excursão, de regresso a Paris, compra o Teatro La Renaissance, que inaugura com a peça de Jules Lemaitre, Les Rois. Em 1896 fez um sucesso com uma adaptação do Lorenzaccio de Alfred de Musset, sendo homenageada oficialmente em Paris, com a realização de uma grande festa e envio de felicitações dos quatro cantos do mundo. Em 1899 vende o La Renaissance e muda-se para o Théâtre des Nations, que inaugura com La Tosca. Em 1900 inaugura o Thêatre Sarah Bernhardt com a peça de Edmond de Rostand L'Aiglon. Nesse palco representa O Bom e o Muito Mau. As peças medíocres são apresentadas por necessidade financeira ou para retribuição a amigos.
A Divina no Brasil (e quando urubu pousa...)
Durante suas longas e tumultuadas turnês ao Novo Mundo, Sarah Bernhardt esteve no Brasil 3 vezes. Em junho de 1886, estreou no Imperial Teatro São Pedro de Alcântara, do Rio de Janeiro e atuou nos Teatros São Jose, de São Paulo e São Carlos, de Campinas. Retornou, em junho de 1893 e em outubro de 1905, para representar a “Tosca”, no Rio. Nesta última visita, no Teatro Lírico, aconteceu o acidente que afetaria para sempre a vida da Divina: em uma das cenas em que deveria simular o salto de uma janela, machucou seriamente o joelho direito. Suportou dores e cirurgias durante dez anos e, em 1915, teve a perna amputada.
O fato não a impediu de
visitar os soldados na frente ocidental durante a Primeira Guerra Mundial, e no ano seguinte, voltava aos Estados Unidos para uma extenuante torne de 18
meses. Em Novembro de 1918 regressou a França, aproveitando o fim da guerra para
realizar uma digressão pela Europa.
Em 1920 publicou um romance, Petite Idole, obra com algum interesse,
já que a heroína é uma idealização da carreira e das ambições da atriz.
Durante os ensaios finais da peça de Sacha Guitry Un sujet de Roman,
desmaiou, recuperando de forma a participar no filme do mesmo autor La
Voyante, produzido por Hollywood, e filmado na sua própria casa em Paris,
mas durante o qual foi acometida de várias síncopes. Acabou por morrer em Março
de 1923.
Fonte: www.arqnet.pt/portal/biografias/bernhardt.html - Enciclopédia Britânica
http://textosdetherezapires.blogspot.com.br/2009/10/sarah-bernhardt.html - Thereza Pires
Imagens: http://textosdetherezapires.blogspot.com.br/2009/10/sarah-bernhardt.html