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domingo, 22 de maio de 2011

Os Irmãos Grimm: Contadores de história ou de moral da história?


Irmãos Grimm: Jacob e Wilhelm
Inseridos num contexto histórico alemão de resistência às conquistas napoleônicas; os Irmãos Grimm recolhem, diretamente da memória popular, as antigas narrativas, lendas ou sagas germânicas, conservadas por tradição oral. Buscando encontrar as origens da realidade histórica germânica, os pesquisadores encontram a fantasia, o fantástico, o mítico em temas comuns da época medieval. Então uma grande Literatura Infantil surge para encantar crianças de todo o mundo. Tinham dois objetivos básicos com a pesquisa:
  • Levantamento de elementos lingüísticos para fundamentação dos estudos filológicos da língua alemã;
  • Fixação dos textos do folclore literário germânico, expressão autêntica do espírito da raça.

O primeiro manuscrito da compilação de histórias data de 1810 e apresentava 51 narrativas. Em sua primeira edição, a compilação foi entitulada "Histórias das crianças e do lar" e já contava com mais algumas histórias. A qüinquagésima edição, última com os autores vivos, já totalizava 181 narrativas. Algumas dessas estórias são de fundo europeu comum, tendo sido também recolhidas por Perrault, no séc. XVII, na França (o que remete à existência de uma fonte comum). Na tradição oral, as histórias compiladas não eram destinadas ao público infantil e sim aos adultos. Foram os Irmãos Grimm que dedicaram-nas às crianças por sua temática mágica e maravilhosa. Fundiram, assim, esses dois universos: o popular e o infantil. O título escolhido para a coletânea "Histórias das crianças e do lar" já evidencia uma proposta educativa. Alguns temas considerados mais cruéis ou imorais foram descartados do manuscrito de 1810.

O Romantismo trouxe ao mundo um sentido mais humanitário. Assim, a violência (presente nos Contos de Perrault) cede lugar a um humanismo, onde se destaca o sentido do maravilhoso da vida. Perpassam pelas histórias, de forma suave, duas temáticas em especial: a solidariedade e o amor ao próximo. A despeito dos aspectos negativos que continuam presentes nessas estórias, o que predomina, sempre, é a esperança e a confiança na vida.

Ex: Confrontando os finais da estória do "Chapeuzinho Vermelho"; em Perrault (que termina com o lobo devorando a menina e a avó) e em Grimm (onde o caçador chega, abre a barriga do lobo, deixando que as duas vivam vivas e felizes; enquanto o lobo morria com a barriga cheia de pedras que o caçador ali colocou...).

Vários críticos afirmam serem as histórias dos Grimm incentivadoras do conformismo e da submissão. Ainda assim, a permanência dessas narrativas, oriundas da tradição oral, justificam o destaque conferido a estes autores alemães. Nos Contos de Grimm não há, propriamente, contos-de-fadas, distribuem-se em: Contos-de-encantamento (estórias que apresentam metamorfoses, ou transformações, por encantamento, a maioria);

contos maravilhosos (estórias que apresentam o elemento mágico, sobrenatural, integrado naturalmente nas situações apresentadas);  fábulas (estórias vividas por animais, algumas); lendas (estórias ligadas ao princípio dos tempos, ou da comunidade, e onde o mágico aparece como "milagre" ligado a uma divindade); contos de enigma ou mistério (estórias que têm como eixo um enigma a ser desvendado); contos jocosos (humorísticos ou divertidos).

A característica básica de tais narrativas (qualquer que seja sua espécie literária) é a de apresentar uma problemática simples: um só núcleo dramático. A repetição, ou reiteração, juntamente com a simplicidade de problemática e da estrutura narrativa, é outro elemento constitutivo básico dos contos populares. Da mesma forma que a elementaridade, ou simplicidade da mente popular, ou da infantil, repudia as estruturas narrativas complexas (devido à dificuldade de compreensão imediata que elas apresentam), também se desinteressam da matéria literária que apresente excessiva variedade, ou novidades que alterem continuamente as estruturas básicas já conhecidas.

Essa reiteração dos mesmos esquemas, na literatura popular-infantil, vai, pois, ao encontro da exigência interior de seus leitores: apreciarem a repetição das "situações conhecidas", porque isso permite o prazer de conhecer, por antecipação, tudo o que vai acontecer na estória. E mais, dominando, a priori, a marcha dos acontecimentos, o leitor sente-se seguro interiormente. é como se pudesse dominar a vida que flui e lhe escapa ... 
 
Obras:
Publicadas pos Jacob Grimm:
1819 - Gramática alemã (segundo, terceiro e quarto volumes respectivamente em 1826, 1831 e 1837)
1828 - As antigüidades do Direito Alemão
1834 - Edição de Reinhart Fuchs
1835 - Mitologia alemã (aumentada na edição póstuma de 1875-1878)
1848 - História da língua alemã
1852 - Primeira remessa do Dicionário alemão (primeiro, segundo e terceiro volumes respectivamente em 1854, 1860 e 1862)

Publicadas por Wilhelm Grimm:
1811 - Poemas heróicos dinamarqueses
1829 - A epopéia alemã

Publicada em comum:
1812 - Contos para a infância e para o lar (um segundo volume foi publicado em 1815. A edição é revista e aumentada em 1819 e depois em 1822. A sétima edição, de 1857, é a última que aparece em vida dos irmãos Grimm)

Alguns títulos importantes do livro Contos para a infância e para o lar
    
    A Bela Adomercida
    
  • O lobo e os sete cabritinhos
  • Os músicos de Bremen
  • Mesinha-ponha-se, o asno de ouro e porrete-pule-do-saco
  • Pequeno Polegar
  • A raposa e os gansos
  • O pobre e o rico
  • A boa sopa
  • A inteligente filha do camponês
  • A lua azul
  • A escolha de uma esposa
  • A Bela Adormecida
  • Os Sete Anões e a Branca de Neve
  • O Chapeuzinho Vermelho
  • A Gata Borralheira
  • O Príncipe Rã.

Fonte: Boletim Informativo FNLIJ edição especial 200 anos de Grimm