Hans Standen |
Em sua primeira viagem ao Brasil esteve no estado de Pernambuco, enquanto que na segunda embarcou na expedição espanhola de Diego Sanabia, novo Governador do Paraguai. Contudo, seu navio naufragou nas costas do litoral fluminense. Por saber lidar com canhões, os portugueses destinaram Staden a artilheiro do Forte de Bertioga e foi defendendo esse forte que os tupinambás (inimigos dos lusos) o capturaram.
Staden foi capturado por um aborígine chamado Nhaepepô-açu ("Panela Grande") e, em seguida, foi dado de presente a outro chamado Ipirú-guaçu ("Tubarão grande"). Uma vez, carregaram-no até a aldeia de Tiquaripe, perto de Angra dos Reis, para ver um dos seus inimigos ter a cabeça esmagada por um ibirapema (tacape de execuções). Logo em seguida, assistiu o corpo ser devorado pela tribo inteira, embriagada previamente com licor de raízes de abatí.
Staden fez de tudo para convencer seus raptores de que ele não era um peros (um português), mas sim um mair (francês), portanto um aliado deles. Conseguiu pelo menos deixá-los na dúvida. E por fim, os tupinambás o transformaram em um animal doméstico que “Tubarão Grande” conduzia amarrado como um cão para todos os lados.
Cenas de uma mutilação (seguindo as narrações de Hans Staden) dos prisioneiros pelos tupinambas |
Deve-se a Staden que viveu 8 meses em meio aos índios, os relatos em primeira mão da vida dos indígenas, com quem partilhou hábitos e costumes. Staden, além de banir do seu relato qualquer menção à zoologia fantástica, pediu a um conhecido, Dryander, que assegurasse a veracidade do conteúdo do livro. Historicamente, Staden foi o primeiro a deixar em forma de livro uma obra que o tornou secularmente conhecido e se tornou das fontes utilizadas na etnografia sul-americana.
O ritual de antropofagia, ao fundo Hans Staden (de barba) |
Um trecho do documento de Staden quando este chegou pela primeira vez na aldeia de Ubatuba, prisioneiro dos índios:
“[...]vimos uma pequena aldeia de sete choças... Chamavam-na Ubatuba. Dirigimo-nos para uma praia aberta ao mar. Bem perto trabalhavam as mulheres numa cultura de plantas de raízes, que eles chamavam mandioca. Estavam ai muitas delas, que arrancavam raízes e tive que lhes gritar, em sua língua "Aju ne xé peê remiurama", isto é: "Estou chegando eu, vossa comida."... Deixaram-me com as mulheres. Algumas foram à minha frente, outras atrás, dançando e cantando uma canção que, segundo seu costume entoavam aos prisioneiros que tencionavam devorar. [...] No interior da caiçara arrojaram-se as mulheres todas sobre mim, dando socos, arrepelando-me a barba, e diziam em sua linguagem: "Xé anama poepika aé!" – “Com esta pancada vingo-me pelo homem que teus amigos nos mataram".
Fonte: http://www.museuhoje.com/app/v1/br/historia/70-hans-staden
Fotos: Brazilian´s History and Sociality. Gravuras de De Brye
Referencias:
COSTA, Bianca Mandarino. Hans Staden. Pesquisa apresentada ao Curso de Graduação em Museologia. UNIRIO, 2006.
STANDEN, Hans. Duas Viagens ao Brasil. Editora Universidade de São Paulo, livraria Italiaia editora LTDA. 1974.