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domingo, 29 de janeiro de 2012

Timothy J. Berners-Lee: O pai da WEB

Formado em engenharia de sistemas, com larga experiência em telecomunicações e em programação de editores de texto, este europeu concebeu a World Wide Web em 1989, no âmbito do trabalho de apoio aos sistemas de documentação e colaboração entre investigadores e cientistas do  Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN, baseado na Suiça).
Berners-Lee colaborou esporadicamente com o CERN durante os anos 80, sobretudo devido às suas competências no âmbito dos sistemas de documentação electrónica. No fim dos anos 80, a invenção da Web foi um caso do homem certo no momento certo, resolvendo o problema certo no ambiente certo e mudando o mundo para sempre.
O problema era este: o CERN era (e é) um esforço internacional de investigação e desenvolvimento, sendo suposta a colaboração e partilha de conhecimentos permanentes entre os diversos participantes em dezenas de projectos de investigação. Ora, estas pessoas não passavam a vida na Suiça e a maior parte do trabalho real de investigação era desenvolvido fora das paredes do instituto. Assim, a partilha de conhecimentos e a “transferência de tecnologia” era levada a cabo usando comunicações e publicações em papel, com todas as enormes inconveniências associadas (não vamos entrar nesta análise...). Era preciso arranjar uma plataforma qualquer de publicação, em princípo em formato electrónico, que ajudasse a resolver o imbróglio e permitisse um acesso facilitado à informação.
O papel de Berners-Lee era tentar avançar com pistas que permitissem vir a ultrapassar esta situação. Ele conhecia bem o conceito de hipertexto, que existe desde os anos 60 (podendo mesmo argumentar-se que  pelo menos desde 1945 se discute o assunto) e estava já profusamente  estudado e até implementado, nomeadamente em sistemas de ajuda dos  Apple e em cd-roms com material de referência. O hipertexto era já a tecnologia consagrada para a organização e apresentação de material escrito em formato electrónico. Parecia óbvio que o sistema teria de passar por esta tecnologia. Mas isto era só uma parte do problema.
A outra era a separação geográfica de toda aquela gente e o facto inescapável de todos usarem sistemas de informação diferentes e incompatíveis. A plataforma de comunicação que eles usavam preferencialmente era a Internet, então perfeitamente disseminada por tudo o que era universidade e instituto de investigação do mundo, e que parecia portanto ser a única porta aberta para uma solução global. Mas a Internet era, em termos práticos, pouco mais do que uma ferramenta para troca de correspondência e disponibilização de ficheiros. Havia um protocolo emergente para arrumação hierárquica de informação (o Gopher), mas não servia para os desígnios de Tim Berners-Lee.
A solução acabou por surgir, não num momento de inspiração divina, mas da forma habitual: com dedicação e suor. Tinha o inconveniente de obrigar os utilizadores a codificar os seus documentos num formato específico, onde o texto seria pontuado por códigos (etiquetas – tags) de controlo, de acordo com regras específicas (para definir estas regras, Berners-Lee baseou-se no  SGML, uma invenção da IBM para “descrição” em abstracto da estrutura de conteúdos): ao conjunto das regras chamou-se HTML.
Estes documentos seriam gravados no disco rígido de um computador com acesso permanente à Internet (o que era o habitual nesses meios: os computadores com acesso à Internet tinham acesso permanente). Cada um deles seria dotado de uma localização específica, definida a partir do seu nome de ficheiro no disco rígido, da estrutura de directórios e do domínio ou endereço IP (sempre únicos) em que se encontrava enquadrado. Essa localização, a que se acrescenta ainda o protocolo de acesso à informação, levou o nome de URL.
Era necessário criar um novo protocolo que permitisse o acesso adequado à informação neste formato e o seu carregamento. O protocolo é o HTTP.
Genial foi a inclusão de uma etiqueta graças à qual as ligações hipertextuais (links) entre documentos dependeria dos URLs. Como estes haviam sido desenhados para descrever um qualquer documento numa qualquer máquina, estava estabelecida uma plataforma que permitiria à partida, ligar qualquer documento a qualquer outro. Esta possibilidade de referências automáticas a outros documentos (assumindo que eles permaneceriam no mesmo sítio...) era uma característica preciosa para os investigadores, que tipicamente têm de se haver com milhares de referências...
Para tornar isto tudo uma realidade, era agora necessário passar à prática, o que significava arranjar um engenheiro. Com a ajuda de Robert Cailliau, Tim Berners-Lee criou um servidor e um cliente (um browser...) para o seu protocolo e começou a experimentar a coisa. Para popularizar o sistema, desenvolveu-se ainda uma aplicação que convertia com relativa facilidade documentação já existente para o novo formato. Estávamos em 1991 e nos dois anos seguintes a nova facilidade de disponibilização automática de informação tornou-se muito popular entre a comunidade de físicos nucleares. Bastava-lhes colocar os seus relatórios numa máquina do seu sistema, avisar por correio-e a sua disponibilidade e o seu URL, e quem estivesse interessado, podia facilmente aceder à informação, sem qualquer necessidade de usar o “dead-tree stuff” (ou seja: o papel...).
Tudo isto foi desenvolvido de acordo com as “normas” e a “etiqueta” da Internet, o que queria dizer que todo o corpo teórico subjacente a esta invenção era de domínio público. No decorrer do ano seguinte, um jovem estudante universitário norte-americano experimentou o cliente de Berners-Lee e comentou para os seus botões qualquer coisa como: “Cool!... Hmm, I think I can make better than this...” Alguns meses depois, havia um browser, também gratuito, para Windows, o mais popular sistema operativo do mundo. Ao browser, chamado  Mosaic, juntou-se, para a maior parte dos utilizadores, um pequeno shareware australiano (o  Trumpet Winsock, criado por um programador da  Tasmânia!) muito eficiente na resolução do problema do acesso à Internet por modem, de um computador com o Windows 3.1 (naquela altura, o acesso à Internet ainda não estava incorporado no sistema operativo; claro que esta oportunidade de negócio acabou por ser anulada pela Microsoft,  como é tradição).
E como soa dizer-se, o resto é história. Ao contrário de quase todos os outros, Tim Berners-Lee escolheu não ficar podre de rico. Preferiu orientar a sua vida para o acompanhamento rigoroso da sua invenção, para lhe assegurar um lugar sólido no panteão das conquistas da humanidade. A estratégia, desse ponto de vista, parece estar a frutificar. A  TIME, por exemplo ( no artigo de onde retirámos o excerto em inglês no princípio deste lexia), considera-o um dos 20 mais importantes cientistas (e uma das 100 pessoas mais influentes) do nosso século, ao lado de Einstein (relatividade), Fleming (penicilina), Turing (computador) ou Freud (psicanálise), entre outros.

Fonte: http://www.estudar.org/pessoa/internet/02www/people-tim_berners_lee.html