Últimas notícias do Viking
Mundo, Historiografia, Arqueologia, Astronomia e Concursos para professores em todo o Brasil

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sarah Bernhardt: A grande atriz do século XIX

Na natureza do teatro, fora dos palcos, sempre desejamos aos artistas não o bordão de "Boa Sorte!", mas sim: "Quebre a perna!" É uma velha e tola superstição no mundo artístico para que o ator ou a atriz tenha uma boa interpretação. Para a grande atriz francesa Sarah Bernhard, que esteve no Brasil durante o período do Império e no idos da Velha Republica. o bordão que parece ofensivo, foi levado ao pé da letra, ou da pior forma... 

Passado obscuro 

Filha natural de uma famosa cortesã holandesa de origem judia, Judith van Hard e de um estudante de direito francês, Edouard Bernard, que se tornará notário no porto do Havre, foi-lhe dado o nome de Henriette Rosine Bernard nasceu em Paris, França, provavelmente entre 22 ou 23 de Outubro de 1844. Como a presença de uma criança interferia com a vida da mãe, foi enviada para um bordel em Auteil e mais tarde deu entrada num convento de Versalhes. Criança difícil e de saúde frágil, converteu-se ao catolicismo, sendo batizada e fazendo a primeira comunhão em 1856, querendo mais tarde ingressar e tornar-se freira. Um dos amantes da mãe, o duque de Morny, meio-irmão materno do imperador Napoleão III, invetivou para que a moça torna-se uma atriz, e quando completou 16 anos conseguiu que fosse admitida no Conservatório de Paris. 
Não sendo considerada uma estudante muito promissora, Sarah, que admirava alguns dos seus professores, achou que os métodos de ensino da instituição eram antiquados e muito tradicionalistas. Deixou o Conservatório em 1862, com 18 anos, sendo aceita, devido ao empenho do duc de Morny, na Comédie Française, como discípula. Nas três diferentes peças em que teve de entrar, a primeira das quais foi a Iphigénie et Aulide de Racine, em 11 de Agosto de 1862, tendo necessidades para poder passar a atriz residente, não foi notada pelos críticos. O seu contrato foi cancelado no ano seguinte, devido a ter agredido uma das principais atrizes, que tinha sido um pouco rude com a sua irmã mais nova, Régine. 

Atriz em propulsão 

Passou então a fazer parte do elenco do Thêatre du Gymnase - Dramatique. O período foi de reflexão, devido aos pequenos papéis que lhe atribuíam em peças de pouco interesse, tendo pensado mesmo em abandonar os palcos. É também um período onde os amantes se sucedem, entre os quais o príncipe de Ligne, pai segundo parece do seu único filho, Maurice. Em 1866, foi contratada pelo Teatro Odeon, e com a competente companhia residente do teatro e muito trabalho começou a sua ascensão. 
O seu primeiro sucesso foi no papel de Anna Damby na peça Kean de Alexandre Dumas pai, mas a sua interpretação de Cordélia no Rei Lear, de Shakespeare, já tinha sido notada. Já conhecida como a atriz favorita dos estudantes parisienses, a sua interpretação, em 1869, do trovador Zanetto na peça em um ato e em verso de François Coppée Le Passant, o seu primeiro papel em travesti, teve um imenso sucesso, que a levou a uma representação privada para Napoleão III. 
Durante a guerra franco-prussiana de 1870-1871 organizou um pequeno hospital militar nas instalações do teatro. Com o fim da guerra, a deposição de Napoleão III, e a proclamação da República, a atriz, mal vista pelos republicanos, devido às suas conhecidas relações e defesa de personagens do anterior regime, conseguiu o principal papel feminino, o da Rainha Maria, na peça de Victor Hugo Ruy Blas, que tinha acabado de chegar do exílio. A sua atuação encantou as audiências, devido sobretudo ao lirismo da sua voz. 
Foi a razão da célebre frase de Victor Hugo, que afirmou que a atriz tinha uma «voz de ouro», caracterização que perdurou apesar dos críticos já descreverem a voz de Sarah Bernhardt como sendo prateada, devido à sua parecença com o tom de uma flauta. Em 1872 deixou o Ódeon e regressou à Comédie-Française, possivelmente devido à intervenção de Hugo. Participou com sucesso na Zaire de Voltaire, mas normalmente os seus papéis eram secundários, até ao momento em que interpretou o papel de Vénus na Phèdre de Racine, substituindo a atriz principal, temporariamente doente. 
As críticas foram entusiásticas, ainda por cima porque se pensava que Sarah não tinha capacidade de interpretar papéis apaixonados. Mais tarde interpretou a Dona Sol no Hernani de Victor Hugo, de uma maneira que terá levado o autor às lágrimas. Tendo começado a esculpir e a pintar, exibiu as suas obras de escultura de 1876 a 1881 no Salon de Paris, tendo-lhe sido atribuída uma menção honrosa no primeiro ano. Em 1880 exibiu também uma pintura. Em 1879, Londres rendeu-se à interpretação de Sarah Bernhardt no segundo ato da Phédre, produzido no Gaiety, durante a exibição da Comédie em Inglaterra. 

Um mundo não é o bastante:
Uma carreira internacional estava à sua disposição, a partir desse momento. Por isso, o regresso às instalações da companhia trouxeram de novo os já famosos ataques de má disposição. O corte com a Comédie deu-se rapidamente, e em 1880 Sarah Bernhardt abandonou a companhia oficial francesa, indo representar em Londres e depois na Dinamarca. Tendo criado a sua própria companhia, com a ajuda do empresário londrino Jarrett, partiu para os Estados Unidos, acompanhada de uma secretária, um mordomo, dois cozinheiros, duas criadas de quarto e um empregado. Durante dois meses percorrerão cinquenta cidades americanas. Nova Iorque é a primeira cidade americana a vê-la, em 8 de Novembro de 1880. 
Regressará ao Novo Mundo mais oito vezes. De regresso à Europa atua em todo o lado, tirando a Alemanha. Em Odessa, na terra dos czares, fora menosprezada por grupos anti-semitas russos. Mas o czar presta-lhe homenagem pública. Na década de 80 do século XIX, aparece na sua vida o dramaturgo Victorien Sardou, que escreveu peças para ela como: Fédora (1882), Théodora (1884), La Tosca (1887) e Cléopâtre (1890), dirigindo-a nas suas próprias peças e levando-a a actuar de uma maneira extrovertida, em cenários exóticos e com guarda-roupas riquíssimas, no Teatro de La Porte Saint-Martin, de que a atriz se tinha tornado proprietária. Entretanto casará, em 1882 em Londres, com Jacques Damala, um jovem grego amante da sua irmã mais velha, um ator sem talento e drogado notário. O casamento não dura devido à morte do marido. De 1891 a 1893 fez uma digressão mundial que incluiu a Austrália e a América do Sul, para além da América do Norte e as principais capitais europeias. 

Extravagâncias 

Sarah Bernhardt se tornou um ícone da extravagância não só pela imensa quantidade de bagagem que sempre levava, mas pelas roupas que usava dentro e fora do palco e pelo hábito de meditar e dormir após as refeições dentro de um esquife construído sob medida.Em 1892, mudou-se para Londres, onde pontificava Oscar Wilde.Tornaram-se amigos íntimos e Wilde dedicou-lhe uma obra : Salomé. A peça foi censurada por Lord Chamberlain e proibida antes de ser encenada.
O seus papéis mais populares, para além da Phèdre, são o de Marguérite Gautier na Dama das Camélias de Alexandre Dumas Filho e no papel principal na Adrienne Lecouvreur de Eugène Scribe. No fim da excursão, de regresso a Paris, compra o Teatro La Renaissance, que inaugura com a peça de Jules Lemaitre, Les Rois. Em 1896 fez um sucesso com uma adaptação do Lorenzaccio de Alfred de Musset, sendo homenageada oficialmente em Paris, com a realização de uma grande festa e envio de felicitações dos quatro cantos do mundo. Em 1899 vende o La Renaissance e muda-se para o Théâtre des Nations, que inaugura com La Tosca. Em 1900 inaugura o Thêatre Sarah Bernhardt com a peça de Edmond de Rostand L'Aiglon. Nesse palco representa O Bom e o Muito Mau. As peças medíocres são apresentadas por necessidade financeira ou para retribuição a amigos.  



A Divina no Brasil (e quando urubu pousa...)
Durante suas longas e tumultuadas turnês ao Novo Mundo, Sarah Bernhardt esteve no Brasil 3 vezes. Em junho de 1886, estreou no Imperial Teatro São Pedro de Alcântara, do Rio de Janeiro e atuou nos Teatros São Jose, de São Paulo e São Carlos, de Campinas. Retornou, em junho de 1893 e em outubro de 1905, para representar a “Tosca”, no Rio. Nesta última visita, no Teatro Lírico, aconteceu o acidente que afetaria para sempre a vida da Divina: em uma das cenas em que deveria simular o salto de uma janela, machucou seriamente o joelho direito. Suportou dores e cirurgias durante dez anos e, em 1915, teve a perna amputada. 
O fato não a impediu de visitar os soldados na frente ocidental durante a Primeira Guerra Mundial, e no ano seguinte, voltava aos Estados Unidos para uma extenuante torne de 18 meses. Em Novembro de 1918 regressou a França, aproveitando o fim da guerra para realizar uma digressão pela Europa. Em 1920 publicou um romance, Petite Idole, obra com algum interesse, já que a heroína é uma idealização da carreira e das ambições da atriz. 
Durante os ensaios finais da peça de Sacha Guitry Un sujet de Roman, desmaiou, recuperando de forma a participar no filme do mesmo autor La Voyante, produzido por Hollywood, e filmado na sua própria casa em Paris, mas durante o qual foi acometida de várias síncopes. Acabou por morrer em Março de 1923.

Fonte: www.arqnet.pt/portal/biografias/bernhardt.html - Enciclopédia Britânica
http://textosdetherezapires.blogspot.com.br/2009/10/sarah-bernhardt.html - Thereza Pires
Imagens: http://textosdetherezapires.blogspot.com.br/2009/10/sarah-bernhardt.html