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domingo, 24 de junho de 2012

Começa a Segunda Guerra Mundial: A invasão na Polônia.


Há quanto tempo as armas estão cantando no front europeu? Para alguns, desde o início da Grande Guerra - que jamais teria terminado, apesar do armistício de 1918. Para outros, uma nova batalha começara em 1936, com o embate entre fascistas e socialistas na Espanha. Já os mais crédulos preferiam ver a paz como soberana no Velho Mundo. Mas o líder alemão Adolf Hitler é homem de certezas, não de dúvidas. Para eliminar qualquer conjectura, resolveu mostrar para todo o planeta que estava começando uma nova guerra - a sua guerra, a guerra do Reich, a guerra da Grande Alemanha. E assim, às 4h45 da manhã de 1º de setembro de 1939, ordenou que seu exército cobrasse com sangue polonês os territórios tirados da Alemanha pelo Tratado de Versalhes. Assim foi dito, assim foi feito. 
Soldados alemães destruindo as barreiras polonesas
Tem início a Segunda Guerra Mundial.
As poderosas guarnições do exército germânico fizeram das defesas polonesas frágeis bibelôs, que se espatifaram completamente em menos de um mês de combate. Varsóvia caiu no último dia 27, e a fortaleza de Modlin, último bastião da resistência, no dia seguinte. A derrocada da Polônia foi sacramentada com a invasão do Exército Vermelho na porção ocidental do território beligerante, em 17 de setembro - a União Soviética, considerando que a República Polonesa já deixara de existir, entrou na guerra para ocupar territórios que reconhecia como zonas de sua influência. Signatária de um pacto de não-agressão com os alemães (leia reportagem nesta edição), ela também o fez sem grandes esforços. Em trinta dias, os ataques das duas potências contabilizaram à Polônia cerca de 70.000 mortos, entre civis e militares, e 130.000 feridos. A Europa, em sobressalto, sabe que é apenas o começo.
Varsóvia destruida por bombardeiros da
Alemanha, em setembro de 1939.
O apaziguamento, afinal, virou coisa do passado - recente, mas ainda assim passado. França e Grã-Bretanha não poderão repetir a ingênua e desastrosa política de conciliação que permitiu à Alemanha nazista ocupar e anexar a região do Reno, em 1936, o torrão dos Sudetos, em 1938, e, em março deste ano, rasgando o acordo assinado em Munique, a Tchecoslováquia - fato que não deixou dúvidas sobre as intenções germânicas. Assim, cumprindo o pacto de auxílio firmado em março com Romênia, Grécia e Polônia, as duas potências ocidentais declararam oficialmente guerra à Alemanha em 3 de setembro, dois dias depois do ataque aos poloneses. Aliás, não foram só elas: até o fechamento desta edição, Austrália, Índia, Nova Zelândia, África do Sul e Canadá também já haviam ingressado oficialmente na luta contra o Reich.
A guerra promete ser duradoura. A Alemanha não parece estar disposta a abandonar sua política externa expansionista, mesmo tendo atingido todos os objetivos iniciais da campanha da Polônia: retomar as terras perdidas em Versalhes, destruir a república arqui-rival e ainda conquistar os chamados "espaços vitais" (Lebensraum, no original alemão) propícios à segurança e expansão do povo germânico. Para estender suas tenazes sobre as disputadas regiões do Corredor Polonês, da Alta Silésia e de Danzig, Hitler provocou a ira de britânicos e franceses, já de cara fechada desde a assinatura do pacto entre nazistas e soviéticos. Mas o Führer dá de ombros, sem demonstrar sinal algum de arrependimento, e promete usar todos os meios necessários para atropelar os inimigos: "Quando se começa uma guerra, já não é o direito que conta, e sim a vitória".

Jogo de cena
A cidade de Wieluń, em 1 de setembro de 1939,
após bombardeio da Luftwaffe.
A vitoriosa manobra alemã na Polônia, batizada de Fall Weiss ("Plano Branco"), principiou-se em 25 de agosto, com uma espécie de teatrinho da autoridade máxima nazista. Naquele dia, às 15h25, Adolf Hitler telefonou a um de seus mais leais oficiais, Gerd Von Rundstedt, comandante do Grupo de Exércitos Sul, que se encontrava acampado às margens do Neisse, e ordenou o início dos ataques para 4h30 da manhã seguinte. Von Rundstedt já havia despachado três batalhões para a pugna quando recebeu, por volta das 20h30 do mesmo 25 de agosto, uma nova mensagem do Führer anulando a ordem de ataque. O marechal de campo teve de correr e segurar seus homens pela gola do uniforme. A justificativa de Hitler arranhava uma surpreendente saída pacífica para o confilto: "Quero evitar a intervenção dos ingleses".
A frase foi a senha para o início de uma semana de negociações. No final de agosto, a diplomacia ainda parecia ter chances de vingar. Hitler admitira receber um plenipotenciário polonês, e a idéia lançada pelo líder italiano Benito Mussolini - fazer uma conferência internacional para discutir casos europeus em litígio - começava a ser levada em consideração. A boa-vontade do lado germânico, porém, não passava de fachada. O líder tedesco não tinha a menor intenção de usar o diálogo para resolver a pendenga, como ficaria provado no fatídico crepúsculo do mês.
Na tarde de 31 de agosto, sob encomenda do Führer, o poderoso general Reinhard Heydrich fabricou um incidente talhado a servir como justificativa à iminente invasão da Polônia. Comandados pelo major da SS Alfred Naujocks, oito soldados alemães vestiram-se com trajes do exército polonês e invadiram a estação de rádio da cidade alemã de Gleiwitz, distante 1,6 quilômetro da fronteira polaca. Após render a equipe da emissora, o grupo anunciou ao microfone, em alto e bom polonês, que chegara a hora de a Polônia atacar a Alemanha. Antes de deixar o local, as falsas tropas polonesas ainda deixaram uma "prova" forjada das supostas hostilidades contra contra civis germânicos, executando um refém - na verdade, um prisioneiro de campo de concentração arrastadi até à rádio especificamente para esse fim. O exército alemão ainda levou o cadáver até os correspondentes internacionais, exibindo-o como evidência inconteste do que anunciavam como cruel ataque polaco.

Corredor Polonês 
Infantaria polonesa em marcha.
Depois desse último jogo de cena, a tão desejada batalha de Hitler foi finalmente levada a cabo. Às 4h45 de 1º de setembro, apenas alguns minutos depois que os aviões Stukas da Luftwaffe (Força Aérea) começaram a atacar os primeiros campos de pouso poloneses, o couraçado alemão Schleswig-Holstein, navio-escola da Kriegsmarine (Marinha), em visita amistosa ao porto de Danzig, abriu fogo contra a Westerplatte, uma faixa de aproximadamente 1,6 quilômetro onde a Polônia mantinha um armazém naval e um depósito de munições. Os poloneses organizaram heróica resistência, mas acabaram se rendendo uma semana depois.
A essas alturas, o Exército alemão já alcançara êxitos estrondosos em diversos pontos do território inimigo, graças a uma nova e revolucionária técnica de guerra - a Blitzkrieg, ou "guerra relâmpago" (leia reportagem nesta edição). Ataques aéreos múltiplos eram executados de forma simultânea, permitindo que as guarnições de tanques em terra avançassem rapidamente. No norte, o Terceiro e o Quarto Exército da Alemanha uniram-se, subjugando o Corredor Polonês já no dia 3 e fazendo com que o Exército de Pomorze fosse completamente dizimado. Na Silésia, o Grupo de Exércitos Sul avançou rapidamente sobre os Exércitos de Lodz e da Cracóvia.
Castelo Real de Varsóvia em
chamas no dia 17 de setembro de 1939.
Em 5 de setembro, a posição da Polônia era crítica, a despeito das declarações de guerra da França e da Grã-Bretanha - que, a bem da verdade, tiveram pouco tempo hábil para se preparar e ajudar a defender a terra atacada. Ao invés de bombas, os aviões da Royal Air Force (RAF) britânica preferiram lançar dezenas de milhões de folhetos em terras alemãs, culpando Hitler pela guerra e esperando que a população teutônica insistisse na paz. Evidentemente, esses apelos não eram refresco ou esperança alguma aos homens do marechal Smigly-Rydz, comandante do Exército Polonês, no combate aos invasores.
E não era para menos. Como se não bastasse a superioridade gritante do equipamento das forças germânicas, Hitler comprometeu em peso seu exército nessa campanha, arriscando-se a deixar desnudas as defesas no quinhão ocidental da Alemanha. Tudo para garantir uma vitória inconteste, afirmativa do poderio militar do Reich. Nesse contexto, a invasão soviética no leste polonês foi apenas a pá de cal nas esperanças da defesa. Mesmo antes de terminada a luta, os conquistadores já repartiam o espólio: uma divisão militar temporária estendeu a fronteira vermelha até o rio Vístula. No fim do mês, com a batalha definida, alemães es soviéticos teriam firmado um acordo para fixar as linhas russas mais para o leste, o restante ficando sob controle tedesco.

'Supremacia ariana'
A anexação desse território foi mais um passo para a construção do Império da Grande Alemanha, talvez a grande obsessão da vida de Adolf Hitler. Mas não se pode deixar de mencionar que a mais recente empreitada militar germânica também veio a atender uma segunda - e mais nefasta - idéia fixa do Führer: a purificação racial e a "limpeza" da nação. Nunca é demais lembrar que um dos primeiros decretos de Hitler como chanceler, em 1933, foi a suspensão dos direitos políticos dos judeus. No início deste ano, em discurso no Reichstag, o parlamento alemão, Hitler declarou com todas as letras que a raça judaica seria eliminada da Europa num mundo dominado pela ordem nazista.
Hitler e seus comandantes.
E o que se viu na Polônia foi uma nova demonstração de tais intenções. O "Plano Branco" incluiu o uso de sete Esquadrões de Ação Especial, os Einsatzgruppen, unidades móveis de extermínio que haviam estreado de forma tímida na Batalha da Áustria, em março de 1938. Sua missão, conforme as palavras do comandante Theodor Eicke, é auto-explicativa: "encarcerar ou aniquilar" todo e qualquer inimigo do nazismo. Além de executar arbitrariamente centenas de judeus, os temíveis Einsatzgruppen mostraram serviço ao assassinar membros da intelligentsia polaca, além de padres e aristocratas. Os judeus poupados da barbárie vêm sendo expulsos da área anexada pelo Reich. Para que as autoridades alemãs tenham controle total sobre seus atos, esse grupo será forçado a viver em guetos - o primeiro está sendo instalado em Piotrkow, e deve ser posto em funcionamento ainda em outubro....
O mundo em alerta - Enquanto Canadá, Austrália, Nova Zelândia e demais países do Império Britânico apressavam-se em tomar partido de Londres, outras forças do mundo ocidental preferiam optar pela neutralidade. Até mesmo a Itália, que cultiva uma rivalidade histórica com a França, preferiu não se juntar à aliada Alemanha no front. Provavelmente pesaram na decisão do ditador Benito Mussolini os protestos dos radicais fascistas anti-bolcheviques, que foram às ruas para condenar o pacto entre Hitler e Stalin, e a indignação generalizada dos italianos com o massacre promovido pelos nazistas na Polônia, país católico como a Velha Bota.
Prisioneiros poloneses judeus, mulheres e
crianças que logo seriam deportadas aos
campos de extermínio  
Mantendo a postura isolacionista adotada após a traumática adesão à Grande Guerra, na qual cerca de 50.000 de seus soldados tiveram as vidas ceifadas em combate, também os Estados Unidos da América desfraldaram a bandeira branca. Para marcar essa posição, o presidente Franklin Delano Roosevelt convocou na última semana do mês a Conferência do Panamá, com a participação de mais de 20 repúblicas do continente. Como resultado dos debates, foi divulgada uma declaração que confirmou a neutralidade dos países representados e ainda baniu a entrada de submarinos beligerantes em seus portos, exigiu o fim das atividades militares subversivas em seus territórios e estabeleceu a criação de uma zona marítima de segurança de 480 quilômetros ao redor do Continente - com exceção do litoral do Canadá e das colônias de países europeus.
A opinião pública americana demonstrou apoiar a decisão de FDR. Apesar do generalizado sentimento anti-nazista, a população acredita que Grã-Bretanha e França serão capazes de conter os avanços de Hitler na Europa. Neville Chamberlain, primeiro-ministro britânico, também espera ser esse o desfecho do embate (leia artigo nesta edição). Desta vez Adolf Hitler terá sérias dificuldades para repetir Munique e fazer Chamberlain - e, por tabela, a Grã-Bretanha - de gato e sapato outra vez. Atendendo aos apelos do povo inglês, o primeiro-ministro convocou ninguém menos que o experiente e sagaz Winston Churchill para o Almirantado. Como todos sabem da queda do lorde por uma boa guerrinha, a Europa pode se preparar: vai ser briga de cachorro grande.